Irene Creder Corrêa
Hoje nascia uma flor
cheia de beleza, alegria e fulgor.
Contra a injustiça e a opressão sempre lutou,
e na estrada da liberdade e do amor caminhou.
Aos pobres e oprimidos entregou seu coração
na luta contra os algozes do povo e da nação,
nesta guerra justa talvez tenha caído
nas garras ferozes do inimigo
Nesta batalha covardemente eles a venceram,
mas de uma coisa não se aperceberam:
Que outras flores nascerão
E o caminho dela seguirão,
e seu cheiro se espalhará,
e seu perfume todo o povo sentirá.
A vitória então chegará afinal
e você será heroína nacional.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Minha filha, minha heroína
Às Gerações Futuras
Eu vos contemplo
Da face oculta das coisas.
Meus desejos são inconclusos,
Minhas noites sem remorsos.
Eu vos contemplo,
Pelas grades insensíveis.
Meu sonho,
é uma grande rosa.
Minha poesia,
Luta .
Eu vos contemplo
Da virtual extremidade.
Minha vida (pela vossa).
Meu amor,
Vos liberta
Eu vos contemplo
As grades esmaecem.
Da própria contingência
Mas minha força
É imbatível
Porque estais
À espera.
Eu vos contemplo
Do fogo da batalha.
Meus soldados
Não se rendem.
O grande dia
Chegará
Eu vos contemplo
Gerações futuras,
Herdeiros da paz e do trabalho
Ante o meu contemplar.
Emmanoel Bezerra dos Santos
* Poema feito quando da primeira prisão de Emmanoel na base naval de Natal em 1969
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Para Ti as Espigas
REPÚBLICA, estendestes
teus amplos abraços por todo teu corpo
e fundaste a paz em seu destino!
Os perversos que vêm de mais além do mar
para saquear sua existência, foram bem recebidos,
e rumo a Formosa acorrentada voam
para alimentar o ninhos de escorpiões.
Logo desceram a Coréia. Sangue
e pranto e destruição, sua acostumada
tarefa: paredes vazias e mulheres mortas,
mas de repente um dia
chegou o baluarte de teus voluntários
para cumprir a sagrada fraternidade do homem.
De mar a mar, de terra a neve,
todos os homens te contemplam, China.
Que poderosa irmã jovem nos nasceu!
O homem nas Américas, inclinado em seu sulco,
Rodeado pelo metal de sua maquina ardente,
o pobre dos trópicos, o valente
mineiro da Bolívia, o largo operário
do profundo Brasil, o pastor
da Patagônia infinita,
te olham, China Popular, te saúdam
e comigo te enviam este beijo em tua fronte.
Não és para nós o que quiseram: a imagem
de uma mendiga cega junto ao templo,
mas uma forte e doce capitã do povo,
ainda com tuas vitoriosas armas em uma das mãos,
com um crescente ramo de espigas no peito
e sobre tua cabeça
a estrela de todos os povos!
Pablo Neruda
- retirada do livro “As uvas e o vento” de 1954.
O Gigante
Eras como nós, povo puro,
e quando pés descalços e sapatos,
camponês e soldado, na distância
marcharam defendendo
tua inteireza, vimos os rostos,
vimos as mãos
do que trabalha o ferro, nossas mãos,
e nos longo do caminhos distinguimos
os nomes do teu povo: eram os nossos.
Soavam de outro modo, mas sob
as sílabas agudas,
eram por fim os rostos e os passos
que com Mao marchavam
através do deserto e da neve
para preservar o germe
de nossa própria primavera.
Alto estava o gigante medindo passo a passo
seu arroz, seu pão, sua terra, sua morada,
e foi reconhecido pelos povos do mundo:
“Como cresceste de repente irmão.”
Mas também fitou o inimigo.
Cá dos bancos cinzentos de Nova York e a City
as algibeiras que ali se alimentam de sangue
se disseram com medo: Quem é este?
O tranqüilo gigante não respondeu: Olhava
as largas terras duras da China. Recolhia
com uma só mão todo o pesadume
e a miséria, e com a outra
mostrava o vermelho trigo de manhã,
tudo o que a terra entregaria,
e no seu grande rosto foi crescendo
um sorriso que ondulava o vento,
um sorriso como um cereal,
um sorriso como estrela de ouro
sobre todo sange derramado.
E assim se levantaram suas bandeiras.
Já os povos te viram limpar tua vasta terra,
unidade, furação na ameaça,
martelo sobre o mal, luz vencedora
sobre o velho inimigo, vitoriosa.
Pablo Neruda
- retirada do livro “As uvas e o vento” de 1954.
CHINA.
CHINA, por muito tempo nos mostraram tua efígie
pintada especialmente por ocidentais:
eras uma velinha enrugada,
infinitamente pobre,
com uma tigela vazia de arroz
na porta de um templo.
Entravam e saíam os soldados
de todos os países,
o sangue salpicava as paredes
te saqueavam como a casa sem dono,
e davas ao mundo um aroma estranho,
mescla de chá e cinza,
enquanto na porta do templo com teu prato
vazio, nos fitava com teu olhar antigo.
feito especialmente para senhoras cultas,
e nas conferências tuas sílabas mágicas
surgiam de repente como luz enterrada.
Todos sabiam algo sobre as dinastias
e ao dizer Ming ou Celadom franziam os lábios
como se comessem um morango,
e assim querias que para nós fosses
uma terra sem homens, uma pátria
onde o vento entrava pelos templos vazios
e saia cantando, só, pelas montanhas.
Queriam que acreditássemos
que dormias,
que dormias de um sonho eterno,
que eras a “misteriosa”,
intraduzível, estranha,
uma mãe mendiga com farrapos de seda,
enquanto isso de cada um de teus portos
se afastavam os barcos carregados de tesouros
e os aventureiros entre si disputavam
tua herança: minerais
e marfins, planejando
depois de sangrar-te, como levariam
um bom barco carregado de teus ossos.
Pablo Neruda
- retirada do livro “As uvas e o vento” de 1954.
A Grande Marcha
Teu retrato não nos satisfazia.
Era formosa tua pobre majestade,
mas não nos bastava.
A bandeira soviética ondulava
beijada pela pólvora
entre corações de homens.
Tu, China, nos faltavas, e através dos mares
ouvimos de repente que a voz do vento
já não cantava só por seus largos caminhos.
Incorporava-se Mao
e ao longo da China
e ao longo
de tantos sofrimentos,
vimos subir seus ombros
envoltos pela aurora.
De longe, da América, cuja a margem
meu povo escuta cada onda do mar,
vimos surgir sua tranqüila cabeça,
e seus sapatos dirigem-se rumo ao Norte.
Para Yennan com o poeirento traje
se encaminha seu grave movimento:
e vimos desde então que as nuas terras
da China lhe entregavam homens,
pequenos homens, enrugados velhos,
sorrisos infantis.
Vimos a vida.
Não estava só o velho território.
Não era lua de água
enchendo a espectral arqueologia.
De cada pedra um homem,
um novo coração com um fuzil,
e te vimos povoada, China, pelos teus soldados,
pelos teus, enfim, comendo pasto,
sem pão, sem água, andando o comprimento do dia
para que a aurora pudesse nascer.
Pablo Neruda
- retirada do livro “As uvas e o vento” de 1954.
domingo, 2 de novembro de 2008
Nada É Impossível De Mudar
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural.
Pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural.
Nada deve parecer impossível de mudar.
Bertolt Brecht
O Analfabeto Político
é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado
e o pior de todos os bandidos:
O político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.
Bertolt Brecht
Elogio Da Dialética
A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas
continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração:
Isto é apenas o meu começo.
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.
Quem ainda está vivo nunca diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes, falarão os dominados.
Quem pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? De nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe e o que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.
Bertolt Brecht