sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O Gigante


NÃO ERAS mistério, nem jade celeste.

Eras como nós, povo puro,

e quando pés descalços e sapatos,

camponês e soldado, na distância

marcharam defendendo

tua inteireza, vimos os rostos,

vimos as mãos

do que trabalha o ferro, nossas mãos,

e nos longo do caminhos distinguimos

os nomes do teu povo: eram os nossos.

Soavam de outro modo, mas sob

as sílabas agudas,

eram por fim os rostos e os passos

que com Mao marchavam

através do deserto e da neve

para preservar o germe

de nossa própria primavera.

Alto estava o gigante medindo passo a passo

seu arroz, seu pão, sua terra, sua morada,

e foi reconhecido pelos povos do mundo:

“Como cresceste de repente irmão.”

Mas também fitou o inimigo.

Cá dos bancos cinzentos de Nova York e a City

as algibeiras que ali se alimentam de sangue

se disseram com medo: Quem é este?

O tranqüilo gigante não respondeu: Olhava

as largas terras duras da China. Recolhia

com uma só mão todo o pesadume

e a miséria, e com a outra

mostrava o vermelho trigo de manhã,

tudo o que a terra entregaria,

e no seu grande rosto foi crescendo

um sorriso que ondulava o vento,

um sorriso como um cereal,

um sorriso como estrela de ouro

sobre todo sange derramado.

E assim se levantaram suas bandeiras.

Já os povos te viram limpar tua vasta terra,

unidade, furação na ameaça,

martelo sobre o mal, luz vencedora

sobre o velho inimigo, vitoriosa.

Pablo Neruda

  • retirada do livro “As uvas e o vento” de 1954.

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