sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Para Ti as Espigas


REPÚBLICA, estendestes

teus amplos abraços por todo teu corpo

e fundaste a paz em seu destino!

Os perversos que vêm de mais além do mar

para saquear sua existência, foram bem recebidos,

e rumo a Formosa acorrentada voam

para alimentar o ninhos de escorpiões.

Logo desceram a Coréia. Sangue

e pranto e destruição, sua acostumada

tarefa: paredes vazias e mulheres mortas,

mas de repente um dia

chegou o baluarte de teus voluntários

para cumprir a sagrada fraternidade do homem.

De mar a mar, de terra a neve,

todos os homens te contemplam, China.

Que poderosa irmã jovem nos nasceu!

O homem nas Américas, inclinado em seu sulco,

Rodeado pelo metal de sua maquina ardente,

o pobre dos trópicos, o valente

mineiro da Bolívia, o largo operário

do profundo Brasil, o pastor

da Patagônia infinita,

te olham, China Popular, te saúdam

e comigo te enviam este beijo em tua fronte.

Não és para nós o que quiseram: a imagem

de uma mendiga cega junto ao templo,

mas uma forte e doce capitã do povo,

ainda com tuas vitoriosas armas em uma das mãos,

com um crescente ramo de espigas no peito

e sobre tua cabeça

a estrela de todos os povos!

Pablo Neruda

  • retirada do livro “As uvas e o vento” de 1954.

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